quinta-feira, 31 de outubro de 2013

MEMBROS DO LETRA APRESENTAM TRABALHOS NO XXVI Congresso de Iniciação Científica (CIUFLA)


Entre os dias 14 e 18 de outubro de 2013 ocorreu o XXVI Congresso de Iniciação Científica (CIUFLA) no qual os estudantes de graduação Isabela Murad, Fábio Henrique dos Anjos e Luana de Fátima Almeida, membros do LETRA, apresentaram trabalhos.
Utilizando pôsteres, os estudantes apresentaram os resultados de pesquisas que estão desenvolvendo, uma etapa importante para a divulgação dos trabalhos e na formação profissional dos jovens pesquisadores. 


terça-feira, 8 de outubro de 2013

Estudo falso é aceito para publicação em mais de 150 revistas


Imagine só o seguinte experimento: Você escreve um trabalho científico falso, baseado em dados falsos, obtidos de experimentos sem validade científica, assinado com nomes falsos de pesquisadores que não existem, associados a universidades que também não existem, e envia esse trabalho para centenas de revistas científicas do tipo “open access” (que disponibilizam seu conteúdo gratuitamente na internet) para publicação. O que você acha que aconteceria? 

Pois bem, um biólogo-jornalista norte-americano chamado John Bohannon fez exatamente isso e os resultados, publicados hoje pela revista Science , são aterradores (para aqueles que se preocupam com a credibilidade da ciência): ele escreveu um trabalho falso sobre as propriedades supostamente anticancerígenas de uma molécula supostamente extraída de um líquen e enviou esse trabalho para 304 revistas científicas de acesso aberto ao redor do mundo. Não só o trabalho era totalmente fabricado e obviamente incorreto (com falhas metodológicas e experimentais que, segundo Bohannon, deveriam ser óbvias para “qualquer revisor com formação escolar em química e capacidade de entender uma planilha básica de dados”), mas o nome dos autores e das instituições que o assinavam eram todos fictícios. Apesar disso (pasmem!), mais da metade das revistas procuradas (157) aceitou o trabalho para publicação. Um escândalo. 

O que isso quer dizer? Quer dizer que tem muita revista “científica” por aí que não é “científica” coisíssima nenhuma. E que o fato de um estudo ter sido publicado não significa que ele esteja correto (pior, não significa nem mesmo que ele seja verdadeiro para começo de conversa). A ciência, assim como qualquer outra atividade humana, infelizmente não está isenta de falcatruas. 

E o que isso não quer dizer? Não quer dizer que o sistema de open access seja intrinsecamente falho ou inválido. Certamente há revistas de acesso livre de ótima qualidade, como as do grupo PLoS , assim como há revistas pagas de baixa qualidade que publicam qualquer porcaria. Nenhum sistema é perfeito. Até mesmo a Science publica umas lorotas de vez em quando, assim como a Nature e outras revistas de alto impacto, que empregam os critérios mais rígidos de seleção e revisão. Além disso, o fato de uma revista ser gratuita não significa que ela não tenha revisão por pares (peer review) e outros filtros de qualidade. Assim, o que deve ser questionado não é a forma de disponibilizar a informação, mas a forma como ela é selecionada e apurada — em outras palavras, a qualidade e a confiabilidade da informação, não o seu preço. 

O relato de Bohannon acaba de ser publicado no site da Science, dentro de um pacote de artigos intitulado Comunicação na Ciência: Pressões e Predadores . 

Nessa mesma temática, a revista Nature publicou recentemente também uma reportagem sobre o escândalo envolvendo quatro revistas científicas brasileiras que foram acusadas de praticar citações cruzadas — ou “empilhamento de citações”, em inglês –, esquema pelo qual uma revista cita a outra propositadamente diversas vezes, como forma de aumentar seu fator de impacto (e, consequentemente, o prestígio dos pesquisadores que nelas publicam). As revistas são Clinics , Revista da Associação Médica Brasileira , Jornal Brasileiro de Pneumologia e Acta Ortopédica Brasileira . 

O suposto esquema foi descoberto pela empresa Thomson Reuters , maior referência internacional na produção de estatísticas de publicação e citações científicas. Como punição, as quatro revistas tiveram seu fator de impacto suspenso por um ano. A reportagem pode ser lida neste link: http://www.nature.com/news/brazilian-citation-scheme-outed-1.13604 . O texto inclui explicações de alguns dos atores envolvidos e aborda as críticas aos padrões de avaliação da CAPES, bastante frequentes na comunidade científica brasileira, por enfatizar de maneira supostamente exagerada o fator de impacto das revistas. 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Professora e ex-mestrando do PPGA-UFLA recebem Prêmio Internacional de Produção Científica em Contabilidade

            Entre os dias 11 e 14 do mês de junho foi realizado na capital mineira, Belo Horizonte, a IX Convenção de Contabilidade de Minas Gerais. No último dia do evento o mestre em Administração pelo PPGA-UFLA Guilherme de Freitas Borges, atualmente professor e coordenador do curso de Contabilidade do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), apresentou o artigo intitulado “Atitude discente em relação ao ensino de Contabilidade em cursos de graduação em Administração: uma análise sob a ótica da estatística multivariada”. O artigo é fruto do trabalho de dissertação defendido em fevereiro de 2013 sob orientação da Profa. Dra. Flávia Luciana Naves.

            No encerramento do evento foram anunciados os artigos científicos contemplados no Prêmio Internacional de Produção Contábil Técnico-Científica Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá. Tal premiação ocorre a cada dois anos, e, nesta edição, recebeu o nome de um dos maiores ícones em si tratando de Contabilidade a nível internacional. O prêmio tem o intuito de incentivar e reconhecer os melhores trabalhos selecionados para apresentação durante a Convenção. Foram premiados os três melhores trabalhos, sendo que o artigo dos membros do PPGA foi agraciado com a segunda colocação acompanhada de um prêmio em dinheiro no valor de R$ 4 mil.



quarta-feira, 5 de junho de 2013

Ilusões e violência: visões sobre mulheres nas sociedades contemporâneas


Igualdade. Segurança. Reconhecimento. Essas palavras, presentes em nosso repertório recente, deveriam expressar mudanças históricas irrefutáveis, principalmente para grupos sociais marginalizados, desprivilegiados, até mesmo esquecidos. Mulheres, homossexuais, negros, pessoas com deficiência se transformaram em categorias sociais tratadas em políticas públicas, em discursos e estratégias empresariais nas últimas décadas. Isso não significa, contudo, que não continuam vivendo em sociedades desiguais e conflituosas, enfrentando discriminação, exploração e violência.

Veja, por exemplo, a situação das mulheres. Os números apontam para a participação ativa das mulheres no mercado de trabalho e pequeno crescimento do número de trabalhadoras em cargos elevados. Elas possuem hoje nível de escolaridade médio maior que os homens. Desempenham tarefas inesperadas, são chefes de família, estão no comando de empresas e países. Não há como negar que são avanços importantes, que certamente indicam que as mulheres estão efetivamente incluídas na sociedade. Não necessariamente.


Acredito que as mulheres nunca estiveram absolutamente excluídas de nossas sociedades, porém sempre estiveram em posição subalterna. Mesmo agora, identificadas como trabalhadoras e consumidoras de grande potencial, as mulheres ainda ganham os menores salários, lidam com várias jornadas de trabalho, são vítimas de vários tipos de assédio e ainda enfrentam o desafio de alcançar o padrão da “mulher que venceu” ou, pelo menos, melhorar suas condições de vida. Esses desafios fazem parte do cotidiano.


Problemas cotidianos são tratados como coisas menores e encobertos por um verniz de “discursos politicamente corretos”. Mas tais conflitos não são menos importantes. São inclusive, conseqüências de mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas, que se acirram em várias formas de competição, disputas e violência. 


Já ouvi milhares de vezes a pergunta sutil que explicita o conflito e enuncia uma (fictícia) demanda: “quem segura essas mulheres?”. Mulheres estão se transformando em alvos a serem abatidos, subjugados e uma das formas históricas de se fazer isso (até porque outros mecanismos políticos, econômicos e sociais se mostram ineficazes) é por meio da violência. 


Isso talvez ajude a compreender a crescente violência contra mulheres no mundo e, particularmente, no Brasil. Um país em tese múltiplo, plural, democrático onde as mulheres correm o risco crescente de serem agredidas, violentadas, assassinadas à luz do dia, em locais públicos. Quando casos como esses acontecem na Índia ou no Afeganistão as pessoas torcem o nariz e chamam de bárbaros todos que vivem lá. E quando isso acontece aqui? Os meios de comunicação apontam um crescimento de 168% no número de casos de estupro no Brasil nos últimos cinco anos. De acordo com a Secretaria de Políticas para as Mulheres, em 2011, quatro entre cada dez mulheres brasileiras tinham sido vítimas de violência doméstica. Isso sem falar do grande volume de casos de agressão e estupro que acontecem em casa e que raramente são denunciados. 


Quando observamos esses números e as notícias recentes percebemos que a luta das mulheres para garantir a inclusão por meio do trabalho, da ocupação, da renda, que parecia lhes trazer maiores condições de respeito e dignidade, reduz sim o risco de violência, mas não garante segurança. Muitos podem argumentar que todos estão sujeitos à violência. Mas quantos estão tão vulneráveis a violência sexual quanto as mulheres e, tragicamente, as crianças? 


Os abusos sexuais contra mulheres, que só foram reconhecidos como crimes de guerra na década de 90, são formas de dominar, de subjugar a mulher, de extinguir seus desejos e sua liberdade. De estabelecer que ela não tem qualquer poder ou controle.


Quando repetidos casos de violência sexual ganham destaque, o terror se espalha; corre-se o risco do aumento de manifestações de violência como essas que testam os limites dessa sociedade que, segundo os números e discursos, mudou tanto. É preciso mobilização, é preciso punição para garantir dignidade às mulheres. Mudamos muito, sim. Mas não mudamos o suficiente.

Flávia Naves

quinta-feira, 16 de maio de 2013

CANDIDATURAS PARA PARTICIPAÇÃO NO LABORATÓRIO DE ESTUDOS TRANSDISCIPLINARES (LETRA)


O Laboratório de Estudos Transdisciplinares (LETRA) receberá candidaturas de interessados em fazer parte do grupo.

Podem inscrever-se estudantes de graduação e pós-graduação de diferentes cursos e instituições, técnicos administrativos que tenham afinidade com os objetivos e linhas de pesquisa do grupo (confira as linhas de pesquisa no blog).

Para isso, o candidato deve escrever uma carta de intenções, contando sua trajetória e as razões pelo interesse pelo grupo. Deve destacar ainda como o grupo pode contribuir em sua trajetória e como o candidato pode contribuir para o grupo.

Acesse aqui as linhas de pesquisa do Letra: Linhas de Pesquisa

As cartas devem ser encaminhadas para o seguinte endereço de e-mail: letragrupo@gmail.com

Dia 27/06/2013 - Último dia para as novas candidaturas 


segunda-feira, 22 de abril de 2013

Heroísmo e ficção no cotidiano do trabalho


Flávia Naves

“Ela ainda deixou 20 reais para trás. Disse que no trabalho como professora não ganhava isso então, não era justo receber esse valor como cozinheira.” Contou-me essa história, entre espantada e descrente, a dona da pousada que economizara, por absoluta resistência da trabalhadora, 20 reais.

Já fazia alguns meses que a pousada estava sem cozinheira até que a professora dessa história apareceu. Explicou que, como trabalhava em uma escola com alunos do ensino médio poderia trabalhar na pousada apenas nos feriados e finais de semana. Fecharam acordo. A dona da pousada ficou satisfeita com o trabalho: “melhor cozinheira que eu!”, confidenciou.

Essa situação é provavelmente muito comum nos dias atuais. Infelizmente, uma professora buscar outra atividade para complementar renda é algo comum para professores de diferentes níveis de ensino. Entretanto, essa naturalização não é suficiente para diminuir meu incômodo sobre esse fato que revela muito sobre as relações de trabalho no Brasil.

Vejamos. A professora não ganha o suficiente para sobreviver. A professora revelou-se uma excelente cozinheira, trabalho que foi muito valorizado e pelo qual ela poderia ganhar mais.  Mas então por que a professora não aceitou o pagamento considerado justo pela dona da pousada? Por que a professora não permitiu que a cozinheira ganhasse mais do que a professora, mesmo sendo papeis de uma mesma pessoa? Na impossibilidade de ouvir o relato de nossa protagonista (que, aliás, não conheço), arrisco-me a interpretar suas razões.

Talvez a professora estivesse defendendo o sonho de uma profissão, de uma carreira na qual ela deve ter investido muito tempo, recursos, esforços e sobre a qual construiu expectativas, relações, uma posição social.  Ganhar mais em uma atividade considerada “menor” em relação a sua profissão é desqualificar-se e desconstruir toda uma visão de mundo, uma trajetória, planos para o futuro. Mas, para manter sua profissão é preciso defendê-la buscando complementação de renda, impedindo que outras atividades (principalmente aquelas consideradas inferiores) recebam remuneração maior. Ainda que o dinheiro vá para suas próprias mãos.

Essa história revela uma hierarquização de profissões e atividades que faz parte do senso comum e que implica em preconceito e discriminação contra determinadas categorias profissionais (que se somam a outras tantas desigualdades). Isso é usado para justificar que, mesmo com a demanda crescente por profissionais, uma cozinheira não pode ganhar mais do que uma professora. Ou melhor, para justificar que uma cozinheira deve submeter-se a remuneração menor do que uma professora, mesmo que essa última não ganhe o suficiente para sobreviver. Pronto. Temos trabalhadores lutando contra trabalhadores.

Talvez o gesto da professora seja uma tentativa de legitimação de sua posição em oposição a crescente desvalorização da educação em nossa sociedade. Professores trabalham muito, em jornadas intensas (frequentemente em mais de uma escola), em ambientes precários, investem em qualificação sem retornos compatíveis e precisam lidar, dentro das salas de aula, com dramas familiares e pessoais, problemas sociais de grande magnitude para terem a possibilidade de executar seu trabalho.

Então, quando se percebe a tristeza e a luta envolvida nessa profissão, apela-se para a ficção repetindo que diante de tantas adversidades o professor é um herói. Um estereótipo que não ajuda, não convence e ainda pode alimentar outros dramas. Considerando-se heróis, professores resistem a toda precarização de trabalho que lhe é imposta e ainda alimentam uma suposta superioridade em relação a outras categorias profissionais. Ilusões. Professores não são heróis. São humanos e profissionais.

Se nossa protagonista professora-cozinheira tivesse aceitado o pagamento completo pelo trabalho que executou, talvez tivesse rompido com a aura de heroísmo que envolve sua profissão de professora. Ela se preservou. Evitou, ainda que provisoriamente, rever suas ideias, suas expectativas e seus planos.

Como sociedade, alimentamos por vezes a mesma ficção e contribuímos para a desvalorização do trabalho digno do professor, da cozinheira, do médico, da empregada doméstica e de tantos outros profissionais. Cobrimos com um envernizado discurso sobre valorização da educação e igualdade social as contradições que povoam nosso cotidiano, as lutas pessoais que ocupam o lugar dos debates e mudanças sociais nos esquecendo de que não há heróis para nos salvar.